Pode-se entender melhor
o significado da Quaresma, decidida pelo Vaticano II, conhecendo a história
deste tempo litúrgico. A celebração da Páscoa, nos três primeiros séculos da
Igreja, não tinha um período de preparação. Limitava-se a um jejum realizado
nos dois dias anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente o empenho
cristão, até o testemunho do martírio, que não sentia a necessidade de um
período de tempo para renovar a conversão já acontecida com o batismo.
Ela prolongava, porém,
a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias (Pentecostes). Após a Paz de
Constantino, quando a tensão diminuiu no empenho da vida cristã, começou-se a
perceber a necessidade de um período de tempo para admoestar os fiéis sobre uma
maior coerência com o batismo. Nascem assim as prescrições sobre um período de
preparação à Páscoa.
No Oriente, encontramos
os primeiros sinais de um período pré-pascal, como preparação espiritual à
celebração do grande mistério, no princípio do século IV. Santo Atanásio nas
"Cartas pascais" (entre os anos 330 e 347), São Cirilo de Jerusalém
nas Protocatequeses e nas Catequeses mistagógicas (347), fala desse período
como realidade conhecida. Eusébio (+340) em De solemnitate paschali fala do
"quadragesimo exercitium......santos Moyses e Eliam imitantes" (Cf.
PG 24,697).
No Ocidente, temos
testemunhos diretos somente no fim do século IV. Falam desse período Etéria
(385) em seu Itinerarium (27,1) pela Espanha e Aquitânia; Santo Agostinho para
a África; Santo Ambrosio (+ 396) para Milão.
Não sabemos com certeza
onde, por meio de quem e como surgiu a Quaresma, sobretudo em Roma; apenas
sabemos que ela foi se formando progressivamente. Ela tem uma pré-história,
ligada a uma praxe penitencial preparatória à Páscoa, que começou a firmar-se
desde a metade do século II.
Até o século IV, a
única semana de jejum era aquela que precedia a Páscoa .Na metade do século IV,
já vemos acrescentadas a esta semana outras três, compreendendo assim quatro
semanas.A partir do fim do século IV, a estrutura da Quaresma é aquela dos
"quarentas dias", considerados à luz do simbolismo bíblico, que dá a
este tempo um valor salvífico-redentor, cujo sinal é a denominação
"sacramentum".
Celebrar a Quaresma é
portanto, reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho, na luta, no
sofrimento e na dor da vida do povo.Como o povo de Israel, que andou 40 anos no
deserto antes de chegar à terra prometida, terra da promessa onde corre leite e
mel. Como Jesus, que passou quarenta dias de retiro no deserto antes de
anunciar a vinda do Reino.
Que subiu a Jerusalém
para cumprir a missão que o Pai lhe confiou: dar a sua vida e ser glorificado. A
Quaresma, e isso é bem evidenciado na sua história, é um tempo forte de
conversão e de mudança interior, tempo de deixar tudo o que é velho em nós,
tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente.
Tempo de graça e
salvação, em que nos preparamos para viver, de maneira intensa, livre e
amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico, da história da salvação, a
Páscoa, aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e a morte.
A espiritualidade da quaresma é caracterizada
também por uma atenta, profunda e prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta
Palavra que ilumina a vida e chama à conversão, infundindo confiança na
misericórdia de Deus.
O confronto com o Evangelho
ajuda a perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto é, a
misteriosa relação nupcial de amor entre deus e o seu povo. Motiva para
atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos
que voltam convertidos. Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de
nossas opções de vida e linha de trabalho, para corrigir os erros e aprofundar
a vivencia da fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e realizando ações concretas
de fraternidade, de solidariedade.
Por: Padre Gian Luigi Morgano
Fonte: http://www.catequisar.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário