Por: Padre Cristovam
Lubel
O que a Igreja celebra na Quarta-feira de
cinzas?
Celebra o inicio da Quaresma, tempo do
ano litúrgico que convida os católicos e demais pessoas à conversão de vida e
os prepara para o Tríduo Pascal, isto é, para a celebração da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus.
O que são as cinzas?
São resíduos em forma de pó,
provenientes da queima de ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior.
O que as cinzas simbolizam?
Simbolizam a transitoriedade da vida
neste mundo, ou seja, que somos peregrinos a caminho de um novo Céu e uma nova
terra. Estamos de passagem por este mundo; ele não é a nossa casa definitiva. A
“debilidade” das cinzas faz lembrar a fragilidade humana.
O que o Antigo Testamento diz sobre as
cinzas?
· Elas simbolizam o
pecado, a fraqueza humana consciente diante da santidade de Deus que deve
resplandecer em seu povo (Cf. Is 44,20; Sb 15,10; Ez 28,18; Ml 3,21; Gn 18,27;
Sl 17,32).
· Elas simbolizam o
arrependimento de quem pecou (Cf. Jt 4,11-15; 9,1; Ez 27,30; Jó 42,6; Jn 3,6).
· Elas manifestam a
tristeza (Cf. 2Sm 13,19) e a inquietude de quem se sente ameaçado de morte (Cf.
Est 4,1-4; 1Me 3,47; 4,39).
· Elas denunciam a
miséria (Cf. Jó 30,19) e o luto (Cf. Jr 6,26)
· Elas alimentam o
infeliz (Cf. Sl 102,10; Lm 3,16).
· Elas revelam a força
do Messias, que as transformará em coroa de glória (Cf. 61,3).
As cinzas são citadas no Novo Testamento?
Sim, três vezes.
· Jesus censura duas cidades – Corazim e Betsaida – Por não terem acolhido
o evangelho (Cf. Mt 11,21; Lc 10,13).
· O autor da carta aos Hebreus recorda de um antigo sacrifício feito pelos
hebreus (Cf. Hb 9,13).
· O apóstolo Pedro lembra da sorte das cidades de Sodoma e Gomorra (Cf.
2Pd 2,6).
Como é feita a imposição das cinzas?
É feita com a colocação de um pouco de
cinza sobre a cabeça, ou sobre a fronte (em forma de cruz), de quem se
apresenta para recebê-la. Enquanto a recebe, o ministro que administra convida
para a conversão, repetindo as palavras de Jesus: “convertei-vos e crede no
Evangelho” (Mc 1,15).
Quando a Igreja começou a impor as
cinzas?
Oficialmente em torno do ano mil,
embora já houvesse o costume em algumas dioceses há mais tempo. Estudiosos de
liturgia situam a introdução da Quarta-feira de cinzas pelo Papa Gregório I, no
Sínodo de Benevento, em 1091.
Quem impõe as cinzas?
Os ministros ordenados – diácono,
presbítero e bispo – e, sempre que houver necessidade, ministros leigos
designados pelo diácono ou pelo sacerdote (presbítero ou bispo). Isso acontece
quando o número de pessoas que se apresentam para receber as cinzas é muito
grande, o que faria com que o tempo de imposição (das cinzas) fosse excessivo.
A resolução como esta, em favor dos fieis, a Igreja dá a designação de “razão
pastoral”.
Quem pode receber as cinzas?
Todas as pessoas que estejam dispostas
a buscar a conversão, isto é, a mudar a vida para melhor.
As cinzas fazem milagres?
Não é esta a intenção da imposição das
cinzas, mas para quem tem o coração aberto a Deus todas as ocasiões – especialmente
a celebração eucarística – podem trazer graças e bênçãos.
Quais são as disposições necessárias para
receber as cinzas?
Entre outras, as seguintes: 1.
Disposição para iniciar uma mudança de vida, abandonando o mal e aderindo ao
bem; 2. Disposição para reconhecer as próprias faltas, arrependendo-se delas;
3. Disposição para entrar num processo de conversão, fazendo do dia a dia tempo
de uma nova vida; 4. Disposição para comprometer-se com Jesus, tendo-o como
Caminho, Verdade e Vida; 5. Disposição para praticar o “mandamento dos
mandamentos”: Amar a Deus e ao próximo; 6. Disposição para perdoar e para
acolher o perdão; 7. Disposição para levantar-se após as quedas, pedindo perdão
pelos pecados cometidos e perseverando na prática do Evangelho; 8. Disposição
para trocar a injustiça pela justiça, a mentira pela verdade, o ódio pelo amor.
Em outras palavras, é ter disposição para
tornar-se uma nova pessoa?
Sim. Para compreender isso, é
interessante recordar o que disse o apóstolo Paulo aos efésios: “Não persistais
em viver como os pagãos, que andam a mercê de suas ideias frívolas. Têm o
entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração
mantem-nos afastados da vida de Deus. Indolentes, entregam-se à dissolução, à
prática apaixonada de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto
que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que o ouviste e dele aprendeste,
como convém à verdade em Jesus. Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem
velho, corrompido pelas concupiscências (=cobiça) enganadoras. Renovai sem
cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem
de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4,17-23).
As cinzas nos transformam em novas
pessoas?
Não. As cinzas são um sinal de que estamos
dispostos a mudar, contando com a graça de Deus. Ao recebê-las, estamos
manifestando a nossa disposição em converter-nos. Somente receber as cinzas não
resolve nada; a graça de Deus age em nós desde que estejamos sinceramente
dispostos a viver uma vida nova.
Que ligação existe entre a Quarta-feira
de cinzas e a Quaresma?
Além de abrir o tempo da Quaresma, a
Quarta-feira de cinzas é um convite a quem as recebe para que participe de
todas as celebrações do período quaresmal, bem como do Tríduo Pascal. Assim,
somos convidados e auxiliados a trocar o coração de pedra por um coração de
carne (Cf. Ez 11,17-21). Quem participa da Quarta-feira de cinzas mas não da
Quaresma começa bem, mas fica apenas no propósito, o que é pouco e insuficiente
(Cf. Lc 14,25-35).
A Quarta-feira de cinzas é dia de jejum e
abstinência?
Sim. Eis o que diz a respeito o
Diretório de Liturgia: “Estão obrigados à lei da abstinência (de carne) aqueles
que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei de jejum
todos os maiores de idade (quem completou 18 anos) até os sessenta começados. Todavia,
os pastores de almas e pais cuidem para que sejam formados para o genuíno
sentido da penitência também os que não estão obrigados à lei do jejum e da
abstinência em razão da pouca idade. A quarta-feira de cinzas e a sexta-feira
santa, memória da Paixão e Morte de Cristo, são dias de jejum e abstinência. A
abstinência pode ser substituída pelos próprios fieis por outra prática de
penitência, caridade ou piedade, particularmente pela participação nesses dias
na Sagrada Liturgia” (2011, p.20).
Posso participar da celebração da
Quarta-feira de cinzas e levar para as pessoas enfermas e/ou idosas de minha
casa?
Sim, a não ser que haja alguma
recomendação em contrário por parte de sua paróquia. Na dúvida, converse e
respeito com os ministros que distribuirão as cinzas em sua comunidade.
O que mais se celebra na Quarta-feira de
cinzas?
A abertura da Campanha da Fraternidade.
A conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a promove todos os anos,
durante a Quaresma, “cuja finalidade principal é vivenciar e assumir a dimensão
comunitária e social da Quaresma. A Campanha da Fraternidade ilumina de modo
particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a
esmola” (Diretório da Liturgia, CNBB, 2011, p.70). Ao participar das
celebrações e atividades pastorais de sua comunidade, você conhecerá o tema e o
lema da Campanha da Fraternidade deste ano, e será convidado a refletir, com
todas as dioceses do Brasil, sobre como transformar a sociedade a partir de si
mesmo, da convivência com os outros e com a natureza e do relacionamento com
Deus. A Campanha da Fraternidade é celebrada durante a Quaresma, mas a
extrapola, já que seu raio de ação tem como alcance toda a vida.
Para concluir
“Essencialmente (a imposição das
cinzas) é um gesto de humildade, que significa: reconheço-me por aquilo que
sou, uma criatura frágil, feita de terra e destinada à terra, mas também feita
à imagem de Deus e destinada a Ele. Pó, sim, mas amado, plasmado pelo seu amor,
animado pelo seu sopro vital, capaz de reconhecer a sua voz e de lhe
desobedecer, cedendo à tentação do orgulho e da autossuficiência. Eis o pecado,
doença mortal que muito depressa começou a poluir a terra abençoada que é o ser
humano. Criado à imagem do Santo e do Justo, o homem perdeu a inocência e agora
só pode voltar a ser justo graças à justiça de Deus, a justiça do amor. Abramos
a terra à luz do céu, à presença de Deus no meio de nós” (Bento XVI,
17/02/2010)
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